domingo, 15 de maio de 2011

UM SONHO NUM SONHO

Este beijo em tua fronte deponho! 
Vou partir. E bem pode, quem parte, 
francamente aqui vir confessar-te 
que bastante razão tinhas, quando 
comparaste meus dias a um sonho. 
Se a esperança se vai, esvoaçando, 
que me importa se é noite ou se é dia... 
ente real ou visão fugidia? 
De maneira qualquer fugiria. 
O que vejo, o que sou e suponho 
não é mais do que um sonho num sonho. 

Fico em meio ao clamor, que se alteia 
de uma praia, que a vaga tortura. 
Minha mão grãos de areia segura 
com bem força, que é de ouro essa areia. 
São tão poucos! Mas, fogem-me, pelos 
dedos, para a profunda água escura. 
Os meus olhos se inundam de pranto. 
Oh! meu Deus! E não posso retê-los, 
se os aperto na mão, tanto e tanto? 
Ah! meu Deus! E não posso salvar 
um ao menos da fúria do mar? 
O que vejo, o que sou e suponho 
será apenas um sonho num sonho? 

[Edgar Allan Poe]

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